terça-feira, 7 de junho de 2011

CONTEXTO E REALIDADE DA GESTÃO DEMOCRÁTICA NO NTE: Reelaboração do Projeto Político Pedagógico.

Por Valdemiro José Marçal*



RESUMO

O Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) é uma unidade de referência na formação de professores e funcionários para o uso integrado das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e outras mídias no processo de ensino e aprendizagem. A proposta de reelaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) do NTE foi uma atividade exigida no decorrer do Curso de Especialização em Gestão Escolar, do Programa Escola de Gestores da Educação Básica/MEC e das políticas de mudanças implementadas pelas novas Diretrizes Operacionais da Rede Pública Estadual de Ensino de Goiás 2009/2010, da Secretaria de Estado da Educação de Goiás. Tem por objetivo inovar o modelo de gestão ao propor maior qualidade na formação continuada de professores e, consequentemente, melhorar o sistema de ensino e aprendizagem com o uso das (TICs) em contextos educacionais. Com o estudo dos indicadores sobre a qualidade da educação, em específico a formação de professores, a equipe do NTE realizou estudos e reflexões ao reelaborar o PPP. Neste, destacou-se a importância de inovar em busca da integração dos recursos tecnológicos na prática de sala de aula. Buscou-se também romper com as barreiras impostas pelo velho paradigma tradicional de gestão ao adotar, na reelaboração do novo PPP os princípios da gestão democrática. Assim, ao longo da reformulação do PPP, tivemos como balizamento a noção da educação de qualidade para todos como direito social do cidadão. Esse trabalho, implementado com o objetivo de construir novas ideias, com a participação colegiada de todos os professores, funcionários e gestão, elegeram-se as melhores propostas com base na realidade do NTE, que contemplará de certa forma todas ações e necessidades da equipe e da comunidade. A participação colegiada tem cumprido o papel importante na busca da autonomia e para reafirmar a gestão democrática na educação como um princípio central.


APRESENTAÇÃO



Uma rede pública pode ir criando em si mesma as condições de ser democrática, na medida em que a sociedade, historicamente, venha experimentando mais democracia, na medida em que o ‘sabe com quem está falando?’ Vá desaparecendo até tornar-se uma absoluta estranheza... Uma rede pública pode ir criando em si mesma as condições de ser democrática, na medida em que, mobilizando-se e organizando-se, lute contra o arbítrio, supere o silêncio que lhes está sendo imposto...”.

Paulo Freire.


A intervenção realizada no Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE) teve como objetivo fundamental estabelecer novas diretrizes para o trabalho coletivo e assim alcançar uma nova dinâmica com a introdução da gestão democrática. Ao mesmo tempo, a reelaboração do PPP permitiu consolidar um ambiente favorável para o desenvolvimento de um espaço de formação continuada de professores, e, consequentemente, pleitear o exercício da gestão democrática e a busca da autonomia no fazer pedagógico com a reelaboração coletiva do Projeto Político Pedagógico do NTE.

Diante dessa realidade, conforme exigência do Curso de Especialização em Gestão Escolar, a equipe NTE, em reuniões realizadas com o objetivo específico de levantar dados e a procura dos pontos falhos no PPP, diante do desenvolvimento e da demanda na disseminação das TICs no contexto educacional, optou pela reelaboração do PPP, de forma a alcançar um indicador que possa melhorar a qualidade da educação, especialmente na formação-ação de professores, tema prioritário que foi discutido em etapas e momentos da intervenção. Nesse contexto,

O projeto não se constitui na simples produção de um documento, mas na consolidação de um processo de ação-reflexão-ação, que exige o esforço conjunto e a vontade política do coletivo escolar (VEIGA, 2004, p. 56).

A educação é um direito social garantido pelos princípios constitucionais ao estabelecer que,

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CF de 1988, artigo 205).

A Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9394/96, assim como outros documentos reconhecidos por legislações, declarações, estatutos e pactos assinados entre diversos países, garante a todo cidadão e cidadã o acesso gratuito à educação de qualidade sem discriminação de nacionalidade, raça, religião, etnia e orientação sexual, para que a pessoa humana possa desenvolver seus talentos e conquistar a plena cidadania. A proposta de gestão do NTE, consolidada por meio da intervenção para a reelaboração do PPP, é co-responsável pelo desenvolvimento de toda equipe, sem perder de vista as características individuais de seus membros. Portanto, a presente intervenção buscou nortear e trazer a si a responsabilidade de propor o desenvolvimento das capacidades cooperativas, respeitando ao mesmo tempo as diversidades da equipe.

Necessitamos pensar em uma escola mais democrática baseada em relações que respeitem a diversidade e a pluralidade de pensamento, de sentimento, de conduta e do corpo de seus membros. Estou falando de uma escola que propicie um ambiente cooperativo, pautado em princípios de auto-regulações pessoais e coletivas, como as definidas anteriormente (ARAÚJO, 2001, p.11).

Foi com base nesta perspectiva que norteou a intervenção no NTE ao estabelecer como objetivo fundamental o de romper com as estruturas tradicionais de gestão e buscar as transformações necessárias para a formação de consciências e espaços de discussões e tomadas de decisões em equipe.

1. A INTERVENÇÃO NO NTE: REPENSANDO O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

    1. Histórico e contexto de atuação do NTE

O (NTE) Núcleo de Tecnologia Educacional é um espaço voltado para a formação continuada de profissionais da educação nas áreas específicas do uso das tecnologias no contexto escolar, na inclusão digital e na promoção da educação à distância, em cursos presenciais e semipresenciais.

O NTE, por meio do Ministério da Educação, Ministério das Comunicações, Secretaria de Estado da Educação de Goiás (SEDUC) e Prefeituras, trabalha com os programas voltados para formação de profissionais da educação, professores, funcionários administrativos, alunos e comunidade, de forma a atender às necessidades essenciais, com os programas de Formação de Professores e Inclusão Digital e Social[1], com a abrangência geográfica que alcança os seguintes municípios: Goiás, Faina, Araguapaz, Mozarlândia, Aruanã, Mossâmedes, Buriti de Goiás, Sanclerlândia e Matrinchã (Subsecretaria Regional de Educação de Goiás), Jussara, Itapirapuã, Fazenda Nova, Novo Brasil, Santa Fé de Goiás, Montes Claros de Goiás e Britânia, (Subsecretaria Regional de Educação de Jussara) e Itapuranga, Guaraíta, Heitoraí, Morro Agudo de Goiás e Uruana, (Subsecretaria Regional de Educação de Itapuranga).

Para atender à demanda atual de vinte e um municípios, o NTE conta com uma equipe multidisciplinar de professores formadores para atender às unidades escolares pertencentes às redes de ensino estadual e municipal nas áreas de Código e Linguagens, Ciências da Natureza e da Matemática, Ciências Sociais e Humanas, Especialistas em Informática na Educação e toda assessoria técnico-pedagógica da Gerência Técnico-Pedagógica de Ensino e Gerência de Novas Tecnologias da Coordenação de Educação a Distância da Secretaria de Estado da Educação de Goiás (SEDUC).

A principal formação oferecida pelo NTE vincula-se aos cursos orientados pelo Programa Nacional de Informática (Proinfo) na Educação, criado pela Portaria nº 522, de 9 de abril de 1997, que tem como objetivo principal introduzir a informática na rede pública de ensino (municipal e estadual) com a distribuição de Laboratórios de Informática em suas unidades de ensino.

O Proinfo está subordinado ao Ministério da Educação/Secretaria de Educação a Distância (MEC/SEED) e estabelece parceria com os governos estaduais, através de suas respectivas Secretarias Estaduais de Educação, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (CONSED) e governos municipais, através de suas Secretarias Municipais de Educação e União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME).

Os NTEs foram criados, nas esferas estadual e municipal, para atender e atuar com as seguintes competências: sensibilizar e motivar as escolas e os profissionais que nela atuam para incorporação das (TICs) tecnologias de informação e comunicação no cotidiano escolar; apoiar o processo de planejamento das escolas que desejarem aderir ao Proinfo; exercer a “capacitação e formação continuada dos professores e das equipes administrativas das escolas”[2]; fornecer assessoria pedagógica para o uso da tecnologia no processo ensino-aprendizagem acompanhando e avaliando esses processos na escola; treinar equipes de suporte técnico e fornecer apoio à resolução de problemas técnicos.

Paralelamente à criação dos NTEs, a SEDUC-GO criou uma comissão para elaboração do projeto estadual de tecnologia educacional. Essa comissão elabora, implementa e desenvolve projetos visando especificar a implantação física dos equipamentos nas escolas e enfatizar os objetivos educacionais no Estado e também o desenvolvimento das etapas de acompanhamento que serão de sua responsabilidade.

A proposta inicial de implementação dos NTEs era para atender a uma média de 50 unidades escolares associadas a cada NTE, mas com a disseminação e a distribuição de novos laboratórios, atualmente para cada NTE passa de 100 unidades escolares. A unidade escolar que tiver interesse em participar do programa Proinfo deve dirigir-se ao NTE de sua regional, estabelecer um plano tecnológico-educacional para cinco anos, no mínimo, e que atenda aos objetivos do projeto estadual. Os NTEs estão aptos a auxiliar nesta etapa e podem, inclusive, desenvolver um trabalho específico junto às escolas, sensibilizando-as a aderir ao Programa. Elaborado o plano tecnológico educacional da escola, este é encaminhado para aprovação estadual, e os projetos mais consolidados serão encaminhados para análise do Ministério da Educação, que poderá propor alterações e solicitar esclarecimentos antes de aprová-lo.

Em 2007, a Secretaria de Educação a Distância do MEC, no contexto do (PDE) Plano de Desenvolvimento da Educação, elaborou uma revisão do Programa postulando a integração e articulação de três componentes:

a) a instalação de ambientes tecnológicos nas escolas (laboratórios de informática munidos de computadores, impressoras e outros equipamentos, e acesso à internet banda larga);

b) a formação continuada dos professores e outros agentes educacionais para o uso pedagógico das (TICs) Tecnologias de Informação Comunicação;

c) a disponibilização de conteúdos e recursos educacionais multimídia e digitais, soluções e sistemas de informação disponibilizados pela SEED/MEC nos próprios computadores, por meio do Portal do Professor, da TV/DVD escola etc.

O Proinfo - Programa Nacional de Tecnologia Educacional, instituído pelo Decreto nº 6.300, de 12 de dezembro de 2007, executado no âmbito do MEC, promove o uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação nas redes públicas de educação básica. Consta também desse Decreto que, para participar do Programa, as redes de ensino deverão contemplar a inserção e uso das Tecnologias de Informação e Comunicação em seu Projeto Político Pedagógico. A partir dessas novas orientações, o Proinfo passará a ter um Programa de Formação Continuada. O Proinfo Integrado - Programa Nacional de Formação Continuada em Tecnologia Educacional - tem como objetivo central a inserção das (TICs) no contexto de sala da aula das escolas públicas brasileiras.

Os Núcleos de Tecnologia Educacional foram criados, no Estado de Goiás, por meio do Decreto nº 4985, de dezembro de 1998, inicialmente implantado em 10 (dez) municípios geograficamente distribuídos para melhor atender às Unidades Escolares que receberam laboratórios de informática educacional (LIE), sendo: Anápolis, Catalão, Cidade de Goiás, Formosa, Goiânia, Iporá, Jataí, Morrinhos, Posse e Uruaçu. Seu principal objetivo era a formação continuada de professores para o uso da informática no contexto educacional.

A Superintendência de Educação a Distância e Continuada (SUED), atualmente, Coordenação de Educação a Distância (COED) desenvolve, desde o ano 2000, a integração das mídias, visando à oferta de cursos de formação continuada para professores e alunos, sempre na perspectiva do uso das TICs na modalidade a distância. Ao longo deste período, ações foram desenvolvidas para garantir a qualidade do ensino a distância com responsabilidade. Os investimentos na infraestrutura e na formação em Educação a Distância (EAD) dos Professores Formadores garantiram a autonomia dos NTEs, qualificando-os como unidades de ensino dessa modalidade e credenciados junto ao MEC. A implantação do Núcleo Regional de Educação a Distância (NURED) seguiu os mesmos critérios geográficos dos NTEs, sendo situados nos municípios de Anápolis, Aparecida de Goiânia, Ceres, Cidade de Goiás, Formosa, Goianésia, Iporá, Luziânia, Monte Alegre de Goiás, Morrinhos, Palmeiras, Porangatu, Posse, Rio Verde, Silvânia e Uruaçu. Diferente dos NTEs, os NUREDs não eram dotados com infraestrutura mínima necessária para trabalhar com as Tecnologias da Informação e Comunicação. Os cursos oferecidos pelos NUREDs eram na modalidade semipresencial, por meio de módulos de ensino, diferenciando-os dos NTEs.

Com a crescente demanda de cursos a distância e o aumento das escolas públicas com laboratório de informática, fez-se necessária a expansão dos NTEs, que totalizavam 10 (dez) unidades. Nessa perspectiva, a então Superintendência de Educação a Distância e Continuada (atualmente COED) em parceria com o Proinfo/MEC, viabilizou para os Núcleos Regionais de Educação a Distância (NUREDs) a instalação de laboratório de informática e formação em EAD dos professores. Com o investimento na formação tecnológica dos professores e a implementação de laboratórios de informática, os NUREDs passaram a ter estrutura equivalente aos NTEs, justificando, assim, a extinção dos NUREDs e a sua transformação em NTEs. Assim, ficou estabelecido o organograma pela SEDUC/COED.

Atualmente, o Estado de Goiás conta com uma rede de 20 (vinte), com sede nos municípios de Anápolis, Aparecida de Goiânia, Catalão, Ceres, Cidade de Goiás, Formosa, Goiânia, Goianésia, Inhumas, Iporá, Jataí, Luziânia, Monte Alegre de Goiás, Morrinhos, Palmeiras, Porangatu, Posse, Rio Verde, Silvânia e Uruaçu.

1.2. Reelaboração do Projeto Político Pedagógico no contexto da gestão democrática

A gestão democrática da educação está vinculada aos mecanismos legais e institucionais e à coordenação de atitudes que propõem a participação social: no planejamento e elaboração de políticas educacionais; na tomada de decisões; na escolha do uso de recursos e prioridades de aquisição; na execução das resoluções colegiadas; nos períodos de avaliação das atividades e da política educacional.

Entende-se a gestão democrática da educação tanto em âmbito local, estadual e nacional, quanto a ação concreta das singulares escolas, como processo de superação de todas as formas de verticalização, a supressão de mecanismos e dispositivos de dominação e a implantação de processos comunicativos, visando ao entendimento acerca das ações e propostas condizentes aos anseios democráticos, demandados pelos diferentes sujeitos sociais (VERZA, 2000, p. 177).

Com a intenção de reestruturação do Projeto Político Pedagógico e consequentemente, da gestão do NTE, para buscar novas formas de conduzir o processo de gerenciamento de maneira democrática e participativa, propuseram-se momentos de estudos, debates e reflexões, com o objetivo da reelaboração do PPP do NTE, conforme afirmação de Gadotti:

Não se constrói um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo. Por isso, todo Projeto Político Pedagógico da escola é também político, O Projeto Político Pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola (GADOTTI, 2000, p. 34).

Neste sentido, as tecnologias da informação e comunicação são instrumentos importantes e propulsores para articular os meios de integração e de interação entre as pessoas no ambiente educativo. É preciso ainda que os atores envolvidos incorporem essa nova cultura no cotidiano de seu trabalho.

A utilização das tecnologias nos fazeres pedagógico e administrativo requer ainda a sensibilidade e alterações metodológicas, mesmo que ainda se encontrem resistências por parte de alguns usuários. Isto é, romper com o paradigma tradicional, propor as inovações que possibilitem a participação de toda equipe nesta mudança.

A adesão e participação ao processo de mudança da escola não pode ser imposta e emerge de seu interior a partir de novos elementos que se inserem em seu contexto, (ALMEIDA, 2005, p. 46).

As TICs, por sua versatilidade, constituem recurso atraente e dinamizadores e com isso está sensibilizando e conquistando a adesão dos educadores aos seus programas e projetos.

O Curso de Especialização em Gestão Escolar ofereceu uma grande contribuição, e somado com as experiências e as tomadas de decisões pela equipe, foi de suma importância para colocar em prática as inovações da gestão democrática no NTE, e as TICs são aliadas desse processo de transformações nas relações entre professores, alunos, gestores e comunidade. Portanto, a atuação do gestor de NTE precisa estar aberta para as discussões, troca de experiências, participação nas reflexões para desenvolver a prática de uma gestão compartilhada, dinâmica e autônoma.

O envolvimento dos dirigentes, bem como das instituições e sistemas em que atuam, é fundamental para a redefinição de novas formas de organização que tornem as hierarquias mais flexíveis, redimensionem o tempo e o espaço, rompam as fronteiras disciplinares, tornando-as permeáveis (et all, p. 46).

A participação do grupo no desenvolvimento de uma proposta de ação é muito importante: transformar numa gestão participativa e colaborativa, propiciando um ambiente de trabalho com autonomia e respeito mútuo. As experiências vivenciadas por meio das interações e da integração fortalecem os laços de afetividade e a inter-relação entre a equipe, produzindo mais autonomia para uma gestão descentralizada.

O homem vive em inter-relação com o mundo, para o qual ele se projeta, e ao mesmo tempo, participa de sua produção. Ao assumir o seu passado e lançar-se ao futuro, o ser humano afirma sua presença no mundo e toma em suas mãos o seu projeto para vir a ser, que dá sentido à sua vida, às suas opções e articulações (HEIDEGGER apud ALMEIDA, 1999 p. 51).

Nesse sentido podemos concluir que, mesmo enfrentando o receio, o medo do novo, é preciso que todo o corpo escolar incorpore a cultura tecnológica em benefício da produção do conhecimento e da qualidade de educação.

1.3. As Reuniões realizadas e a participação da equipe do NTE

Percebi que minha participação no Curso de Especialização em Gestão Escolar foi fundamental para a reelaboração do PPP. Creio que está atuação ofereceu-me subsídios para a construção de novos paradigmas, para promoção das mudanças necessárias e ampliação da autonomia do NTE. A intervenção teve como objetivo dotar o NTE de ações e procedimentos voltados para a democratização dos recursos das TICs e também promover a inclusão digital de seus agentes, articulando questões de ordem administrativa e de ordem pedagógica no NTE. Nesse sentido, nas ações desenvolvidas pela equipe, refletidas no espaço e no âmbito da reelaboração do PPP, podem-se perceber as ansiedades que alguns professores demonstram, devido as resistências à utilização das TICs como ferramenta pedagógica e metodológica no contexto educacional. Nesse contexto, percebe-se ainda grandes dificuldades no gerenciamento de tempo entre o trabalho administrativo da instituição e das atividades e programas desenvolvidos no NTE, tanto as atribuições de ordem teórica, que exigem leituras e reflexões, quanto as de ordem prática, que exigem ações no sentido de concretizá-las, como exemplo, as ações e propostas de formação de profissionais da educação para utilizar os recursos das TICs em sala de aula.

Com o propósito de implementação de mudanças e culminando com a intervenção para atender às exigências necessárias para a conclusão do Curso de Gestão Escolar do Programa Escola de Gestores da Educação Básica/MEC e em consonância com as novas Diretrizes Operacionais da Rede Pública Estadual de Ensino de Goiás 2009/2010, estabeleceu-se uma série de reuniões e encontros com o objetivo de estudar e eleger as melhores propostas para a reelaboração do PPP. Assim, com o objetivo de fazer uma intervenção que culminasse com a reelaboração do PPP de modo a constituir em um documento que fosse a expressão do trabalho coletivo, foi dado início às atividades de intervenção propriamente ditas. Para a realização da reelaboração do PPP foi convidada toda a equipe para participar das reuniões, conforme programação prevista no cronograma:

DATA

EVENTO

PARTICIPANTES

03/01/2009

Reunião com o objetivo de sensibilização para a proposta de reelaboração do PPP do NTE.

Professores, Funcionários e Gestor;

15/01/2009

Reunioão na COEDi, para estudo e conhecimento das novas Diretrtizes da SEDUC.

Gestores de NTE e Equipes Técnica e Pedagógica da COEDi.

21/01/2009

Estudo do PPP e levantamento das prioridades para o novo PPP.

Professores Formadores e Gestor.

03/02/2009

Avaliação das propostas e tomadas de decisões sobre a importância do PPP para o NTE.

Professores Formadores e Gestor.

11/02/2009

Início da Reelaboraçãol do PPP, digitação e inserção de novas idéias.

Professores Formadores e Gestor.

26/02/2009

Reunião para leitura, correção e digitação do texto do PPP.

Professores, Funcionários e Gestor;

27/02/2009

Momento de apresentação, avaliação e aprovação do PPP.

Professores, Funcionários e Gestor;

Para a realização das atividades de reelaboração do PPP ficou estabelecido que o mês de fevereiro/2009, conforme cronograma, seria reservado ao estudo do PPP existente, à análise, às alterações, inclusão de novas propostas, avaliação e publicação do novo PPP do NTE, para que no mês de março/2009 ele estivesse definitivamente em vigor com a execução das atividades de formação continuada de professores, gestores e funcionários da educação e acompanhamento pedagógico nas unidades escolares.

Dentre todas as reuniões realizadas, destaca-se a primeira, que aconteceu no dia 03/01/2009, para a sensibilização da equipe de professores, funcionários e gestores para a importância de buscar novos paradigmas para inovar à gestão e funcionamento do NTE diante das diretrizes aprovadas pela SEDUC. Inicialmente foram feitos estudo, análise e discussão das novas Diretrizes Operacionais e sobre as decisões tomadas em uma outra reunião da equipe gestora de todos os NTEs com Coordenação de Educação a Distância, realizada em Goiânia, nos dias 15 e 16/01/2009.

Para reafirmar a importância da participação coletiva na reelaboração do PPP, uma nova reunião foi marcada para o dia 21/01/2009 e ocorreu com a participação somente dos professores e gestor. Ocorreu de forma democrática, que procurou respeitar a pluralidade de pensamento de cada ator e estabeleceu novos critérios de atendimento, de acompanhamento às unidades escolares, à formação de professores e funcionários. Foram de comum acordo a divisão de atividades, de unidades escolares e programas atendidos e desenvolvidos pelo NTE. Neste sentido, cada ator fica responsável pelo atendimento a um certo número de escolas e também pela fixação de número de professores e funcionários a serem atendidos.

Na reunião do dia 11/02/2009 houve pouca participação, mas foi produtiva. Foi um momento de incorporação e reestruturação das novas ideias, digitação e correções de dados das alterações já em curso do novo PPP. É importante ressaltar que as experiências vivenciadas no Curso de Especialização em Gestão Escolar foram fundamentais no sentido de orientar a reformulação de modo a contemplar os princípios da gestão democrática. Com esses princípios norteadores lentamente a reelaboração do PPP foi ganhando forma, sempre com a preocupação de ser a expressão de um trabalho coletivo.

Nos dias 26 e 27 de fevereiro/2009, realizou-se uma nova revisão do texto, com a participação dos professores, funcionários e gestor e, também, para a apresentação e avaliação dos pontos positivos e dos que deveriam ser melhorados no PPP, para o bom funcionamento da instituição.

O trabalho coletivo implica uma compreensão mais ampla da escola. É preciso que os diferentes segmentos e atores que constroem e reconstroem a escola apreendam suas várias dimensões e significados. Isso porque o caráter educativo da escola não reside apenas no espaço da sala de aula, nos processos de ensino e aprendizagem, mas se realiza, também, nas práticas e relações que aí se desenvolvem. A escola educa não apenas nos conteúdos que transmite, à medida que o processo de formação humana que ali se desenvolve acontece também nos momentos e espaços de diálogo, de lazer, nas reuniões pedagógicas, na postura de seus atores, nas práticas e modelos de gestão vivenciados (SILVA, 2002, p. 4).

De acordo com o cronograma estabelecido pela intervenção, a reelaboração do PPP do NTE foi analisado, avaliado e aprovado por toda a equipe e posto em execução de acordo com as normas estabelecidas pelas novas orientações da Coordenação de Educação a Distância/SEDUC.

Inicialmente, houve maior participação de todos no processo de reelaboração do PPP, mas com o acúmulo de atividades já em andamento e por desinteresse de alguns atores, nem todos participaram efetivamente da elaboração de novas propostas.

Nesse sentido, o Plano Nacional de Educação, instituído pela Lei nº 10.176 de 09/01/2001, define entre seus objetivos:

[...] democratização da gestão do ensino público, nos estabelecimentos oficiais, obedecendo aos princípios da participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (PNE, 2001, p. 6).

Todo o trabalho foi realizado com a participação coletiva, sempre atendendo ao princípio da gestão democrática, acatando e elegendo as melhores ideias que poderiam colaborar pela melhoria e qualidade nas ações e atendimento aos programas junto às escolas jurisdicionadas ao NTE.

Foi importante a participação colegiada na apresentação da versão final do texto, uma vez que se tratava de uma proposta de construção participativa, aberta para novas intervenções futuras.

Outro aspecto importante e que vale mencionar, além da participação efetiva dos professores, foi a participação dos servidores administrativos e gestor nas decisões referentes à gestão e ao funcionamento, bem como a participação do Conselho Escolar, visando a uma gestão transparente, autônoma e democrática no NTE.

Portanto, assegura a Lei nº 10.176 de 09/01/2001:

Deve-se promover a efetiva desburocratização e descentralização da gestão nas dimensões pedagógica, administrativa e de gestão financeira, devendo as unidades escolares contar com repasse direto de recursos para desenvolver o essencial de sua proposta pedagógica e para despesas de seu cotidiano (PNE, 2001, p. 74).

A participação do Conselho Escolar é importante na tomada de decisões, que no caso do NTE, se tornam mais fáceis, pois os componentes do conselho são os próprios atores que fazem parte da equipe de profissionais atuantes no NTE e que acompanham e avaliam a todo o momento as atividades desenvolvidas pelo Núcleo.

2. AS DIFICULDADES VIVENCIADAS NA INTERVENÇÃO REALIZADA NO NTE E OS RESULTADOS ENCONTRADOS

De acordo com as exigências do Curso de Especialização de Gestão Escolar, a proposta de intervenção culminou com a reelaboração do PPP pela equipe do NTE, que, mesmo aprovado pela equipe, ainda não é um produto acabado e fechado, e sim em constante estudo e momentos para reavaliação pela equipe do NTE. A intenção de propor uma gestão democrática está vinculada à prática, à participação coletiva de todos os professores, funcionários e gestores na tomadas de decisões, na distribuição e planejamento dos cursos de formação continuada de professores. Diante dessa realidade, pode-se afirmar que houve um grande avanço na integração da equipe, estabeleceu-se maior efetividade e interação pedagógico-administrativa, reafirmando as relações de construção coletiva e evidenciando a convivência e responsabilidade partilhada em busca da autonomia e da qualidade da educação. O planejamento coletivo e participativo tem mostrado importante conquista no processo de democratização da gestão no NTE.

Essa proposta constituiu-se em um marco na mobilização para a ruptura das diferenças, rompendo com os paradigmas tradicionais impostos pelo modelo de gestão autoritária, em busca de resgatar e valorizar a ação coletiva de forma responsável e transformadora. Os momentos de estudo e reflexão foram especialmente importantes para estabelecer e reafirmar a relação entre gestão, professores, funcionários e conselho escolar em busca da implementação da gestão participativa e democrática.

É necessário decidir, coletivamente, o que se quer reforçar dentro da escola e como detalhar as finalidades para se atingir a almejada cidadania (VEIGA, 2000, p. 23).

É importante salientar que toda mudança requer co-responsabilidade de todos, porém, nem sempre são atendidas todas as propostas de acordo com o planejado, mas é preciso estabelecer os critérios e objetivos observando-se as particularidades, as condições dos atores, enfim, de todos os segmentos que compõem o corpo escolar, propondo assim condições essenciais e necessárias para a participação efetiva e coletiva de todos nas tomadas de decisões.

O trabalho coletivo e o compromisso com a transformação social colocam, pois, o planejamento participativo como perspectiva fundamental quando se pretende pensar e realizar a gestão democrática da escola. Ao mesmo tempo, essa concepção e esse modelo de planejamento se constituem como a base para a construção do Projeto Político Pedagógico da escola (SILVA, 2002, p. 5).

Toda mudança requer persistência e esforço coletivo, muitas vezes, não atende especificidades individuais, mas procura almejar toda coletividade. Em função disso, é importante a integração da equipe, pois assim fazendo, as relações se tornam mais interdependentes e autônomas. Estas características tornaram-se visíveis entre os professores, funcionários e grupo gestor do NTE. Mas para que aconteça de esta relação de reciprocidade, é necessária a participação efetiva da equipe no planejamento e na distribuição coletiva de trabalho no atendimento pedagógico e administrativo das atividades e das unidades escolares atendidas pelo NTE.

Para ter alcançado os objetivos propostos na intervenção com base nos anseios dos atores vinculados ao NTE, fez-se necessário buscar a construção crítica e participação coletiva, tendo em vista a importância da educação na formação e no desenvolvimento do pensamento criativo de todos os atores envolvidos.

De acordo com a proposta da intervenção, verificou-se que, para implementar a gestão democrática no NTE, é necessário atentar-se para as seguintes estratégias norteadoras para gestão:

  • Constituir um novo modelo de gestão, visando adequar-se às exigências da administração pública, em um novo contexto social que exige transparência das decisões e participação da comunidade local nas decisões;

  • Construir um banco de dados para armazenamento de informações estatísticas dos trabalhos realizados pelos programas vinculados ao NTE;

  • Rever permanentemente as normas relativas ao sistema de ensino, visando adequação à realidade;

  • Manter um processo de capacitação continuada, no âmbito interno do NTE, visando à socialização e troca de experiências entre a equipe;

  • Realizar eventos em conjunto com a COED/SEDUC e outros órgãos afins sobre temas específicos que envolvem processos de ensino e aprendizagem;

  • Incentivar a troca de experiências entre os profissionais do NTE e demais instituições de ensino;

  • Viabilizar espaço de discussão sistemático, com a participação de órgãos e entidades, visando ao fortalecimento de ações articuladas que são imprescindíveis à consolidação de um projeto de educação com qualidade;

  • Potencializar a visibilidade do NTE, especialmente no atendimento à formação de professores para garantia do direito social à educação de qualidade, mostrando o papel do NTE junto à comunidade;

  • Propiciar a articulação e integração entre os órgãos que compõem o sistema educacional, segundo a natureza, finalidade, atribuições e competências, para atingir os objetivos que lhe são próprios;

  • Realização de grupos de estudo, oficinas, seminários, encontros internos e com segmentos da sociedade;

  • Estabelecer momento para avaliar o desenvolvimento e as atividades previstas no PPP, relativas ao acompanhamento das unidades escolares e a formação de profissionais de educação.

A execução das estratégias que deverão englobar o ato de gerenciamento do sistema de ensino, por certo, conquistará novos espaços de construção de práticas que levem novas motivações à atuação dos professores em suas atividades em sala de aula, sempre com objetivo de transformar e formar cidadãos conscientes e críticos. Toda organização interna deve contar com momentos de estudos, tomada de decisões coletivas para análises dos procedimentos adotados, a fim de atingir todos os professores, funcionários e gestor, com reflexões sobre novas maneiras de utilizar as tecnologias de informação e comunicação em contextos educacionais.

3. REFLETINDO SOBRE A INTERVENÇÃO REALIZADA NO NTE: A CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

A educação, por ser um direito constitucional de todo(a) cidadão(ã), é uma obrigação do Estado. Ao mesmo tempo é necessário compreendê-la, conhecer seus determinantes para situá-la no contexto das relacões sociais. É importante analisar também como a sociedade está organizada e quais as políticas públicas que estão direcionando a gestão e as concepções sobre a qualidade da educação.

Para acompanhar as evoluções tecnológicas e pelas transformações das importantes ações do MEC, através do Proinfo, foi a implantação dos Núcleos de Tecnologia Educacional – NTE, na década de 1990, no auge das grandes mudanças e reformas do sistema de ensino, com o advento das tecnologias e dos recursos digitais a serem implementados no contexto escolar como ferramentas motivadoras no processo de ensino e aprendizagem, e na articulação dos aspectos administrativos com o intuito de fortalecer a rede de comunicação no âmbito escolar.

Nesse sentido, é necessário fazer referência aos movimentos sociais e às lutas dos trabalhadores da educação e da sociedade pelas transformações importantes e mudanças dos paradigmas na gestão da educação pública, que tem seu marco inicial na década de 1980, com a aprovação do princípio de gestão democrática na educação através do Art. 206 da Constituição Federal de 1988. Outro momento importante que podemos registrar foi à publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei nº 9.394/96) ao provocar a ruptura nas estruturas hierarquizadas, estabelecendo e regulamentando as diretrizes gerais para a educação e sua defesa por um projeto de gestão democrática da escola. Conforme referência em seu Artigo 14, estabeleceu-se que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: participação dos profissionais da educação na elaboração do Projeto Político Pedagógico da escola e participação da comunidade escolar e local em Conselhos Escolares ou equivalentes, bem como do conselho de classe, associação de Pais e Mestres e do Grêmio Estudantil.

[...] gestão democrática do ensino público pela mediação de seus diferentes órgãos é de preceito constitucional. É um princípio revolucionário orientador que se contrapõe com o direcionamento e autoritarismo que contamina todos os órgãos públicos e os espaços cotidianos da existência. O desafio é um só: avançar na gestão democrática em todas as instituições e órgãos públicos, que direta e indiretamente afetam a vida dos cidadãos (VERZA, 2000, p. 222).

As experiências têm mostrado que a participação efetiva da comunidade da gestão escolar nos trabalhos realizados proporciona um equilíbrio no trabalho da equipe gestora e verifica maior possibilidade para conseguir a organização e melhor qualidade nas atividades desenvolvidas.

Os órgãos colegiados têm possibilitado a implementação de novas formas de gestão por meio de um modelo de administração coletiva, em que todos participam dos processos decisórios e do acompanhamento, execução e avaliação das ações nas unidades escolares, envolvendo as questões administrativas, financeiras e pedagógicas. Não se trata de co-gestão. O diretor ainda é a autoridade responsável pela escola e tem o apoio do colegiado nas decisões essenciais das atividades e projetos da unidade escolar em seus vários níveis (ABRANCHES apud ROSA, 2003, p.54).

Diante deste projeto social de transformações e reforma na educação, referendadas pelo aparato legal já mencionado, se deve a afirmativa de que,

a democracia como princípio articula-se ao da igualdade ao proporcionar, a todos os integrantes do processo participativo, a condição de sujeitos expressa no seu reconhecimento como interlocutor válido. Como método, deve garantir a cada um dos participantes igual poder de intervenção e decisão, criando mecanismos que facilitem a consolidação de iguais possibilidades de opção e ação diante dos processos decisórios (ADRIÃO e CAMARGO, 2002, p.77).

A democratização da gestão da educação deve acompanhar a modernização da atualidade e de legitimar a participação da sociedade, desta forma,

o discurso da democratização não é completamente afastado, mas antes reconvertido e subordinado à ideologia da modernização, e com ela compatibilizado dado os elevados ganhos simbólicos e de legitimidade que daí provêm. Nesse sentido as prioridades políticas tendem a ser estabelecidas em função da segunda, e não do primeiro, ao mesmo tempo que se constrói uma nova semântica da modernização que permite utilizar as mesmas palavras (democratização, participação, autonomia, descentralização, justiça social, etc.) com novos significados (LIMA, 2001, p. 124).

Na perspectiva das novas estruturas organizacionais e de forma a romper com os paradigmas tradicionais de administração nos modelos estabelecidos pelo capitalismo e a gestão democrática, passa a constituir-se em uma nova forma de atender e do fazer coletivo, busca-se efetivar o exercício de participação ativa e efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, com o propósito de administrar os recursos técnicos, pedagógicos e humanos num contexto mais amplo.

A gestão democrática do ensino público supõe a transparência de processos e de atos. Ao caráter público e aberto e opõe o privado e o secreto (CURY apud OLIVEIRA, 1998, p. 204).

A administração da educação é diferente de uma de administração empresarial, ou seja, a educação como instituição social visa à produção pedagógica da unidade escolar e à formação integral, crítica e autônoma, que busca a socialização do homem como ser social, portanto, a escola deve desenvolver,

Os diversos momentos da prática pedagógica, ou seja, no ato de ensinar, nas lutas políticas, no planejamento, na organização pedagógica da escola, na gestão, na relação com a comunidade (DOURADO, 1998, p. 90).

Na administração empresarial ocorre o contrário: tem como objetivo principal a política capitalista dominante, voltada para a produção e ampliação do capital, alienação do trabalhador e visando à obtenção de lucro. Com o fortalecimento dos movimentos sociais na década de 1980, iniciaram-se as discussões sobre as modalidades de ingresso dos dirigentes escolares. Entre estas modalidades, a que vem se destacando como canal efetivo da democracia na grande maioria dos estados e municípios foi a utlização da eleição direta para diretores. A gestão da educação no NTE, por ser um órgão descentralizado que atende em sua principal finalidade a formação de professores para a utilização dos recursos tecnológicos e midiáticos no contexto escolar, bem como promover o desenvolvimento de diversos programas de formação de professores e gestores, tem também o objetivo de orientar, acompanhar e assessorar a gestão dos recursos tecnológicos nas unidades escolares sob sua jurisdição.

Para a gestão dos recursos tecnológicos, humanos e financeiros do NTE, desde a sua implantação no ano de 1998, ficou estabelecido na legislação vigente que a escolha do gestor se dê pela modalidade de indicação da equipe local, com a participação dos responsáveis pela coordenação estadual de educação a distância, atendendo aos requisitos necessários de formação em especialização de tecnologia na educação. A gestão do NTE deve buscar efetivar as relações sociais em equipe, uma vez que todo o trabalho a ser planejado e executado tem a participação de toda a equipe. Neste sentido afirma:

o princípio de co-responsabilidade, parceria, colaboração, interação, solução de problemas em comum, diálogo, aproximação de todos os interessados e envolvidos nas situações valorização e socialização das experiências e conhecimentos individuais” (MASETTO apud VIEIRA, ALMEIDA, ALONSO, 2003, p. 74).

Esta co-responsabilidade refletiu-se na reelaboração e execução do Projeto Político Pedagógico do NTE. No entanto, tem-se contemplado no seu bojo a gestão democrática de forma a atender aos anseios da coletividade.

O NTE, por ser um espaço específico para atendimento à formação de professores e gestores, atende aos alunos e à comunidade em geral, com capacitação em cursos básicos de informática, pesquisas, troca de experiências, parcerias e momentos de estudos. Por ser um órgão descentralizado, com atendimento específico direcionado à formação de profissionais da educação, não conta com a participação direta da comunidade nas tomadas de decisões, e seu conselho é formado pelos componentes da própria equipe que compõe os profissionais do NTE.

A gestão democrática na educação não depende simplesmente ou somente da modalidade de escolha dos gestores, e sim das relações interpessoais de integração, interação e acolhimento de ideias e participação efetiva da coletividade no processo de contínua mudança. Conforme afirma o PNE,

a gestão democrática deve ter como preceito básico a radicalização da democracia que se consubstancia no caráter público e gratuito da educação, na inserção social, nas práticas participativas, na descentralização do poder, no direito à representação e organização dos trabalhadores, na eleição direta dos dirigentes, na socialização dos conhecimentos e das decisões bem como na atitude democrática das pessoas num permanente exercício de conquista da cidadania, concebida como materialização dos direitos fundamentais legalmente constituídos, entre eles o direito à educação (PNE, Proposta da Sociedade Brasileira, 1997, p. 49).

Na perspectiva de disseminar a democratização da educação, a equipe do NTE trabalha com a formação de professores e gestores, atendendo aos princípios da autonomia, da ética e da qualidade na educação, buscando efetivar e acompanhar as mudanças substanciais por uma gestão participativa e democrática.

As atividades da formação de professores e gestores são vinculadas aos Programas do MEC e da Secretaria de Estado de Educação de Goiás, por isso a equipe do NTE tem a autonomia de planejar as metodologias que melhor atendem às necessidades e à realidade da formação continuada de professores para utilizar as tecnologias da informação e comunicação como uma ferramenta a mais no processo de ensino e aprendizagem. Acredita-se que a gestão democrática da educação tem de se alicerçar com a participação coletiva de todos os atores que compõem o NTE. Quando se promove um momento específico para o grupo de estudo, reflexão e avaliação, o objetivo é desenvolver um projeto de educação que contemple a realidade da comunidade. A gestão deve estar aberta a críticas e conceber espaços democráticos para tomadas de decisões, tendo em vista que o ambiente que conta com os recursos tecnológicos e midiáticos proporciona um grande avanço na integração da equipe com a comunidade.

Nessa perspectiva, a formação de professores em exercício tem desenvolvido, na sua prática pedagógica, a integração e a interação, conforme afere:

o processo de formação continuada constitui o ideal para oferecer ao professor oportunidade de analisar e reelaborar a sua prática pedagógica, respeitando o seu tempo e estilo de atuação. Uma formação norteada pela prática pedagógica, numa perspectiva de formação-ação e que articule a prática, a reflexão, a investigação e as teorias requeridas para revelar a razão de ser da prática e promover uma transformação da ação pedagógica (MORAES, 2005, p. 37).

O planejamento coletivo e participativo tem mostrado importante avanço no processo do desenvolvimento da aprendizagem na formação continuada de professores para uso integrado das TICs na educação e de implementação da gestão democrática no NTE.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A reelaboração do PPP do NTE aconteceu por exigência de Curso de Especialização em Gestão Escolar, que solicitou um projeto de intervenção no ambiente de trabalho e em consonância com as novas Diretrizes Operacionais da Rede Pública Estadual de Ensino de Goiás 2009/2010, da Secretaria de Estado da Educação. Respeitadas as limitações político-administrativas do sistema educacional, a gestão do NTE tem procurado romper com as estruturas arcaicas e superar as imposições do sistema tradicional de modo a atingir os objetivos propostos pelas orientações do Programa Nacional de Informática na Educação – Proinfo e, ao mesmo tempo, democratizar as tomadas de decisões.

Diante das mudanças influenciadas pelo desenvolvimento tecnológico e pela própria disseminação dos recursos midiáticos no espaço escolar, o Curso de Especialização em Gestão Escolar contribuiu muito para a elucidação de novas formas de pensar a administração educacional. Neste sentido, toda mudança requer cuidados especiais com as rupturas bruscas e transformações no fazer político, administrativo e pedagógico da unidade de ensino.

Com a publicação das Diretrizes Operacionais da SEDUC/GO, que visa à melhoria do ensino em Goiás, a autonomia da gestão na educação e o desenvolvimento dos programas de formação continuada de professores e alunos, o NTE, por meio de sua equipe de professores, funcionários e gestor, tem buscado, por meio do planejamento coletivo, ações para romper com as indiferenças, promover as transformações necessárias no sistema de ensino e estabelecer limites e possibilidades para a formação crítica e consciente do(a) cidadão/cidadã.

As relações de reciprocidade e afetivas entre os atores do NTE e a interação dos recursos tecnológicos no ambiente educacional têm mostrado evolução na sensibilização, na aproximação e apropriação da cultura tecnológica, demonstrando importante desenvolvimento na construção e aquisição do conhecimento, tanto por parte da equipe formadora quanto na formação continuada dos professores.

As ações e estratégias utilizadas no decorrer da reelaboração do PPP do NTE, bem como da participação de toda a equipe nas reuniões, assim como as contribuições do Curso de Especialização em Gestão Escolar foram importantes nas tomadas de decisões para realizar as transformações necessárias e o fazer político e pedagógico do NTE. Nesta perspectiva, nota-se que a gestão do espaço educacional ganha importância e credibilidade com a participação coletiva. A decisão democrática da equipe de distribuir as atividades docente e administrativa reafirma a co-responsabilidade de todos os atores para a melhoraria na qualidade da educação oferecida pelo NTE, do acompanhamento pedagógico e do atendimento individualizado dos laboratórios das unidades escolares.

Nesse sentido, a execução do projeto de intervenção permitiu à equipe gestora do NTE articular e estabelecer momentos de discussões em grupos de estudos e avaliação que acontecem semanalmente para garantir e fortalecer a qualidade da educação, da gestão democrática, bem como, registrar e divulgar as ações desenvolvidas.

Portanto, a reelaboração do Projeto Político Pedagógico do NTE constitui, também, a mudança de paradigmas e o desenhar de novas práticas educativas.


5. REFERÊNCIAS

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ARAÚJO, Ferreira. O ambiente escolar cooperativo e a construção do juízo moral infantil. Campinas: Unicamp, 1993.

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______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.391/96. Brasília. 1996.

______. Lei nº 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e outras providências. Disponível em: http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=129. Acesso em 13 jul. 2009.

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DOURADO, L.F (ORG). Gestão escolar democrática. Goiânia: editora alternativa, 2003.

GADOTTI, M. Perspectivas atuais da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

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MORAES, Vladimir Fleury. Em Busca da Cooperação Piagetiana no Núcleo de Tecnologia Educacional da Cidade de Goiás-GO. Dissertação (Mestrado). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.

OLIVEIRA, Andrade Dalila, (Org.) Gestão Democrática da Educação – Desafios Contemporâneos, Rio de Janeiro: 5. Edição, Vozes, 2003.

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SILVA, M. S. P. da. Organização do trabalho escolar e as políticas educacionais no limiar do século XXI. In: CICILLINI, G. A.; NOGUEIRA, S. V. (orgs.). Educação escolar: políticas, saberes e práticas. Uberlândia: EDUFU, 2002.

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[1] São programas desenvolvidos pelo NTE:

Proinfo Integrado, programa de formação voltada para o uso didáticopedagógico das tecnologias da informação e comunicação no cotidiano escolar. Oferece os seguintes cursos: Introdução à Educação Digital (40h), Tecnologias na Educação (100h), Elaboração de Projetos (40h), Curso Especialização de Tecnologias em Educação (400h).

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13156&Itemid=271

Profuncionário é um curso de educação a distância, em nível médio, voltado para os trabalhadores que exercem funções administrativas nas escolas das redes públicas estaduais e municipais de educação básica. http://portal.mec.gov.br/index.php/?option=com_content&view=article&id=12365

Proinfantil é um curso em nível médio, a distância, na modalidade Normal. Destina-se aos professores da educação infantil em exercício nas creches e pré-escolas das redes públicas – municipais e estaduais – e da rede privada, sem fins lucrativos – comunitárias, filantrópicas ou confessionais – conveniadas ou não. http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12321&Itemid=550

Uso integrado das TIC é um curso que tem como objetivo promover a integração dos recursos midiáticos no contexto da sala de aula. É oferecido aos professores e dinamizadores de tecnologias, com carga horária de 120 horas. http://formacao-ntegoias.blogspot.com/

Disseminadores de Educação Fiscal é curso em parceira da ESAF/SEDUC, com o objetivo de formar disseminadores que vão atuar nas escolas, no local de trabalho e sociedade, para desenvolver ações de Educação Fiscal http://www.esaf.fazenda.gov.br/esafsite/gead/home_gead.html

TV Escola é uma ferramenta de formação continuada, pois, além dos vídeos, exibe comentários e dicas pedagógicas, com Teleposto do NTE e funciona conforme programação do MEC.

http://portal.mec.gov.br/tvescola/

Gestão Escolar e Tecnologias: uma parceria entre Secretarias Estaduais de Educação, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP) e a Microsoft Brasil, curso de formação de Gestores Escolares TIC. http://www.gestores.pucsp.br/index.aspx

[2] Diretrizes do Programa Nacional de Informática na Educação, disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me001166.pdf. (Acesso em: 09 jul. 2009).


    *Valdemiro José Marçal

    marcal62@yahoo.com.br

    Professor Formador de Tecnologias na Educação – NTE Goiás, Graduado em Geografia, FFCC-GO, Especialista em Ciências Sociais, UFG-GO, Especialista em Informática na Educação, UFG-GO e Especialista em Gestão Escolar, UFG-GO.